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Imigrantes japoneses no refeitório da Hospedaria. (Japanese immigrants) Acervo: Museu da Imigração |
Por Marize Tamaoki
A subida da serra foi um espetáculo maravilhoso: os imigrantes viam aquela imensidão de montanhas cobertas de mata virgem, colorida por flores amarelas, brancas e violetas dos mais diversos matizes. Os filetes de água que saltavam das rochas, despencando na profundeza dos precipícios, os túneis escuros e a vertigem das alturas, fizeram com que aquelas pessoas se esquecessem momentaneamente da tristeza que já lhes vinha chegando por estarem do outro lado do mundo, tão longe, tão distante da pátria querida.
Chegando ao alto da Serra de Paranapiacaba, foram transferidos para outro trem, sempre se mantendo na maior ordem e respeito. Após três horas de viagem, os imigrantes chegaram à Hospedaria de Imigrantes, na cidade de São Paulo, sendo recepcionados pelo diretor, pelos funcionários da hospedaria e por cinco intérpretes da língua japonesa. A hospedaria tinha então a aparência de um quartel e capacidade para abrigar 2 mil imigrantes. O jantar foi preparado com o intuito de homenagear e agradar aos imigrantes, pois foram servidos pão com sopa de bacalhau com batatinhas ao invés do costumeiro pão e caldo de carne.
Os funcionários ficaram surpresos ao constatar a absoluta limpeza do salão após o jantar: as mesas do imenso refeitório foram enfileiradas e não havia um farelo de pão, uma ponta de cigarro no chão ou qualquer resquício de sujeira, como era costumeiro por parte dos outros imigrantes, quando deixavam o recinto. Também ficaram impressionados com o asseio. Todos os japoneses tomavam repetidos banhos e vestiam-se sempre com roupas limpas. Transcrevemos trecho de reportagem do Correio Paulistano, jornal da época: "Depois de permanecerem uma hora no refeitório, tiveram de abandoná-lo para saber quais eram as suas camas e os quartos. A todos surpreendeu o estado de limpeza absoluta que ficou o salão: nem uma ponta de cigarro, nem um cuspo, em perfeito contraste com as cuspideiras repugnantes e pontas de cigarro esmagadas com os pés dos outros imigrantes. Eles têm feito as suas refeições sempre na melhor ordem e, apesar de serem os últimos a fazê-las, duas horas depois dos primeiros, não houve um grito de gaiatice, um sinal de impaciência ou uma voz de protesto."
Os imigrantes japoneses deixaram excelentes impressões ao povo brasileiro. Andavam sempre em grupos, na maior ordem e educação com que todos se tratavam, apesar das terríveis circunstâncias que os deixavam atônitos e pesarosos com seus destinos, pois haviam confiado à empresa de emigração todas suas posses e seu dinheiro, acreditando na promessa de que seus pertences lhes seriam restituídos quando chegassem ao porto de Santos, o que não ocorreu: foram logrados e sequer um vintém lhes foi devolvido.
O destino dos primeiros imigrantes, desde o início, foi marcado por perspectivas sombrias. A partir do nono dia da chegada, os imigrantes começaram a ser distribuídos na seguinte ordem: - 152 pessoas de 24 famílias provenientes de Okinawa, para a Fazenda Canaã ; - 173 pessoas de 23 famílias também provenientes também de Okinawa, para a Fazenda Floresta; - 101 pessoas de 27 famílias provenientes de Kagoshima, para a Fazenda São Martinho; - 88 pessoas de 23 famílias provenientes de Kagoshima, Kochi e Niigata, para a fazenda Guatapará; - 210 pessoas de 52 famílias provenientes de Fukushima, Kumamoto, Hiroshima, Miyagi e Tóquio, para a fazenda Dumont; - 49 pessoas de 15 famílias provenientes de Yamaguchi, Aichi e demais províncias, para a Fazenda Sobrado. Os imigrantes que foram para as fazendas somavam 773 pessoas: 586 homens e 187 mulheres. Ficaram na cidade de São Paulo 18 imigrantes espontâneos ou que tinham profissões definidas.
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