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Por Marize Tamaoki

O navio Kasato Maru aportou em 18 de junho de 1908, quinta-feira, com bom tempo, às 17 horas, junto ao cais do Porto de Santos. Os passageiros aguardavam ansiosos a chegada, após uma longa e penosa viagem de 51 dias, percorrendo 20 mil quilômetros de mar, do Japão ao Brasil. Era época de festas juninas. Os balões subiam bem alto, enfeitando ainda mais o céu todo estrelado... Esse espetáculo maravilhoso comoveu os imigrantes, que imaginavam tratar-se de uma recepção de boas-vindas. 
Na verdade, a queima de fogos e o lançamento de rojões e balões comemoravam as festas de Santo Antonio, São Pedro e São João. O povo brasileiro, como é de sua natureza e cultura, recebeu os imigrantes com um misto de carinho e curiosidade, observando com atenção aquele povo tão diferente, constituído de pessoas de olhos rasgados e traços exóticos, mas vestidas elegantemente em trajes de corte e estilo europeu. Algumas mulheres até usavam luvas e chapéus, o que lhes conferia um toque moderno e diferenciado. 
Os homens estavam todos vestidos de ternos bem cortados e de impecável caimento. Alguns haviam sido soldados na guerra russo-japonesa de 1904-1905 e traziam no peito suas condecorações. Todos aparentavam muita esperança e vontade de vencer. Mal sabiam dos tempos árduos e das terríveis dificuldades que os aguardavam. A agitação no Kasato Maru era intensa entre os 800 imigrantes (781 imigrantes sob contrato, 10 imigrantes espontâneos e outros). Haviam, afinal, chegado ao "país das árvores de frutos de ouro", que iriam deixá-los ricos, permitindo que, nessa nova condição, em breve retornassem ao Japão. Apenas no dia seguinte, 19 de junho, iniciou-se o desembarque: 

Os imigrantes deixaram o navio, empunhando bandeirinhas japonesas e brasileiras confeccionadas com seda oriental. Era um gesto de delicadeza para com a terra que os acolhia e que, segundo imaginavam, lhes daria a sonhada fortuna. 

Após a chegada ao Porto de Santos, os imigrantes foram embarcados num trem de segunda classe e encaminhados à Hospedaria de Imigrantes, no bairro do Brás, em São Paulo, onde ficariam até serem encaminhados às fazendas que os contrataram através da Companhia Imperial de Emigração no Japão. Os contratos continham cláusulas e acordos que jamais foram cumpridos na íntegra, prejudicando os imigrantes que nada podiam fazer para contestá-los. 

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